domingo, 29 de agosto de 2010

Por que?

Era quarta-feira. Eu estava saindo de uma adorável aula de gramática. A professora tinha nos ensinado o uso de porque, por que, porquê e por quê.
Minha cabeça doía, quando parei no ponto de ônibus e uma criança se aproximou.
- Pode “me dá” uma moedinha?
- Não - respondi em seguida.
-Por que você não pode? Insistiu a criança.
-Não te dou, porque não quero.
Rebati impaciente com a insistência da criança, que continuara a me olhar.
Olhos mortos, um aspecto enfraquecido. Parecia-me que queria dizer algo. Entretanto, continuou calada. Até pensei que ela fosse embora, mas, continuou:
- Queria entender porque nasci. Ninguém sabe como cheguei aqui, nem o porquê. Faltei a aula hoje porque precisava pedi dinheiro para alimentar minha família, pois, minha mãe “ta” desempregada por que está muito doente. Meu pai, bom, ele sumiu e eu nem quero saber o porquê. Minha irmã sai todo dia, diz que vai vender o corpo, mas, não entendo, porque ela sempre volta com ele. É assim. Os “porquês” sempre atrapalham minha vida, e nunca saberei o porquê.
Naquele mesmo instante, lembrei-me da aula de gramática, lembrei-me como foi trabalhoso aprender semanticamente cada “porque”. Como era fadigoso ter que escutar a voz daquela professora. Entretanto, eu aprendi como usar.
Olhei para aquela criança, percebi que ela também sabia usar. Até porque, como ela mesmo disse, fazia parte da vida dela. Logo, o problema ainda, eram os ‘porques’ sem respostas.

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